por Christiane Nóbrega * |

 

Ser mãe é treta. Esse papo de amor incondicional, de paixão desmedida, de sorrisos compensadores é tudo balela. Uma grande falácia. Como a palavra romantização tá na moda, vamos nela: é a romantização da maternidade. Pobre da minha mãe que teve 07, criou 05 e ainda recebia sobrinhos para longas temporadas em casa, não dá pra ser sã. Tenho 03 e já ando chamando urubu de meu louro e até abacaxi de jabuti. Chamar o filho pelo nome do cachorro então? Todo santo dia.

 

Minha treta atual é a nova fase de leitora da minha filha de 14 anos. Ela anda lendo livros comerciais, esses de lista de mais vendidos, e eu? Estimulo, claro. Entretenimento. Compro, converso, ajudo escolher, negocio comprar um por vez, aceito spoilers, pergunto a evolução da leitura. Mas ela não se contenta só com isso, a casa fica imersa nas emoções da leitura da dona moça, o que rendeu episódios, no mínimo, interessantes.

 

Viajei sozinha por poucos dias e decidi descansar por uma noite antes de buscá-los. Já pelas 21h ela me liga aos prantos:

– Mãe, ela matou os avós!

– Ela quem minha filha?

– Ela…- e mais choro descontrolado.

Eu, com preocupação potencializada pela saudade, já fui pegando as chaves do carro, mas ainda sem entender lhufas, decidi ser enérgica:

– Onde você está, minha filha? Estou indo te buscar agora mesmo. Tenta ficar calma que a mamãe já tá indo.

– Mãe – já com a voz audível, talvez pelo susto com meu tom – é que eu terminei o livro (não vou dizer qual foi pra não ter spoiler) e foi ela quem matou os avós- mais choro.

Ri alto num misto de alívio e raiva. Mal sabia que essa foi SÓ a primeira vez.

 

Aí estou eu no meu quarto e lá vem ela chorando de novo:

– Mãe, por que vocês fazem isso?

– Isso o que, menina?

– Matam as velhinhas, vocês não podem matar velhinhas!

– Oi?

– É, vocês escritores.

Imagine os vizinhos ouvindo isso? Promovida a assassina de velhinhas.

 

Como trato é trato, livro terminado, passeio na livraria. Ela escolheu um livro que o título é “Os dois morrem no final”. Vibrei! Dessa vez não tem choro, já sabe o final. Bobinha, eu, esqueci que ser mãe é treta. Anteontem, 02 da manhã (foco na hora) sou acordada com choro:

– Mãe, terminei meu livro e eles morrem no final! – me arrastei pro lado, estendi a mão e a abracei…

 

Alguém aí pode, por favor, me indicar um livro de comédia sem mortes e finais tristes?

* * *

*Christiane Nóbrega é escritora, advogada, fundadora do Coletivo Maria Cobogó, mãe de três filhos e se equilibra no salto para vencer com bom humor (por sinal, contagiante) todas essas tarefas.  Seu livro FIOS foi finalista do Prêmio Jabuti e agora, além dos infantojuvenis, irá lançar seu primeiro romance para o público adulto.