por Sandra Daher * |
Se elas fossem crianças, estariam com meias e sapatinhos de pulseira, brancos. Leves vestidos em organza, também brancos, cachos e fitas nos cabelos. Com esse traje de domingo fariam uma foto na praça para o álbum de família. Um quadro antigo. Certamente teríamos que adaptá-lo a um tempo mais recente, mas o que importa no momento são os laços que as unem.
Crescidas, vão se reunir para um passeio: circular por ali, sentar-se à mesa e talvez pedir um sorvete. Lembrar os tempos da saudosa livraria, com volume monumental e requintado no ambiente; grato retorno, palpável e afetivo. E dos cinemas, lotados de filmes concorridos. E depois terão um tempo para conversar, rir, pensar oqueagoravamosfazerdenovo.
Encontraram-se cobogós, como os da capital: o dentro e o fora, ar e luz se ligando. A interação entre casa e rua. Foi um passo para se identificarem no jeito de se comunicar, entre elas e as pessoas — a escrita e os livros como meio.
Nasceram as Cobogós, que agora passeiam. Um passeio em que as afinidades prosperam. Sempre um up nas relações entre si e com seu público. Mais um sorvete. Depois, ganhar aquele espaço. Passeio é algo suave e sugere contentamento. Para os nossos tempos, palavra que quer recuperar a leveza. As ideias surgem, quem sabe, no ir e vir descontraído, um pouco como os peripatéticos.
E então, ao fim da tarde, as meninas podem nos trazer coisas, estimuladas pelo teto translúcido e passeando distraidamente entre as orquídeas.
***
*Sandra Daher é escritora, formada em Humanas. Qual uma Sherazade candanga, conta histórias lindas em seu livro e seus escritos. “Extratos de Conta-Corrente” foi editado pelo Coletivo Maria Cobogó homenageado neste texto.
É sempre bom aprender com as realizações das Marias Cabobos. Quero ser para elas não um laço, mas um nó de aconchego. PARABÉNS pela crônica que diz tão bem sobre o grupo.