por Gina Vieira Ponte * |

 

 

Assisti “Não Olhe para Cima” por pura curiosidade diante da treta: “Gostei/Odiei”. Eu sou da turma que gostou muito e recomenda!

Ele é uma grande sátira ao atual cenário político, econômico e social de um mundo soterrado pelas Big Techs e pelo capital de forma tão violenta, que atravessa profundamente as nossas subjetividades.

A nossa forma de pensar, sentir, sonhar, agir, viver, nunca mais foi a mesma depois que as redes sociais, os algoritmos e a lógica ultraliberal se impuseram, condicionando toda a nossa existência à perspectiva do mercado. Tudo tem que gerar likes, visualização, monetização, tudo tem que viralizar.

Não importa quão fútil e bizarro um tema ou um assunto seja, se o público se interessou por ele, vale a pena tratá-lo. O engajamento do público é milimetricamente calculado e é ele quem pauta a mídia, que passa a ficar completamente refém  – porque para lucrar depende do público.

O mundo se guia por gurus e influenciadores que repetem bobagens como: “que haja vida: a vida sem stress de viver”. Um acontecimento vira meme em um minuto e no minuto seguinte alguém é violentamente cancelado e tripudiado no tribunal das redes.

Antes de ser uma crítica explícita às Big Techs, às Mídias Digitais e ao Neoliberalismo, o filme é uma crítica ácida e necessária à Negação da Ciência, à Sociedade do Espetáculo, à Sociedade do Consumo, à cultura da Zoeira, à Positividade tóxica, aos políticos ultraliberais e oportunistas, à canalhice dos mais ricos que só conseguem olhar o mundo e tudo ao seu redor pela ótica do lucro.

A gente sai do filme ainda mais ciente do tamanho da encrenca em que estamos metidos e fica se perguntando como sair dela.

E eu, como professora freireana que sou, saí do filme com a convicção ainda maior de que, como nos adverte o professor Bernard Charolt, a sociedade tem uma escolha para fazer agora: a educação ou a barbárie.

Ou fazemos uma defesa inegociável de uma educação emancipadora e crítica, que permita às novas gerações não se acomodarem ao neoliberalismo e às estruturas injustas que ele promove, ou vamos ser arrastados para a barbárie.

Mais ainda, podemos ser extintos, como tentam avisar insistentemente os protagonistas do filme.

 

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*Gina Vieira Ponte é brasiliense, graduada em Letras e professora da Secretaria de Educação do DF. Idealizou o projeto Mulheres Inspiradoras e leva suas ideias aonde pode lutar contra o racismo, pela educação, pela diversidade e pela causa da mulher.