por Tânia Maria * |
MÃE
Se vive.
Se pensa que se vive.
O tempo passa.
Não ouvimos pelos olhos,
não enxergamos pelos ouvidos.
E o tempo passa…
Hoje, eu te escutei,
Hoje, eu te vi.
Você não falou e
não me enxergou.
Porém, eu te vi e
te escutei.
Você, cabeça branca,
ossos desnudos,
olhos tristes.
Devorada pela vida.
Me vi em você.
Me enxerguei em você.
Meu coração chorou.
Mas, sabemos, não basta ele chorar.
É preciso muito mais.
E o tempo correu, e, mãe,
ele passa.
Você partindo, vai com você
um pedaço de mim.
E eu, tão incompleta,
fico tentando lhe enxergar
e lhe ouvir mais.
Talvez, querendo diminuir
a mutilação que trago
em mim.
* * *
CONTRAMÃO
Para minha mãe
Como poderia
mostrar a você
o sol,
se nem
vislumbrava a luz?
Como poderia
servi-la com
bondade,
se nem
discernia o mal?
Como poderia
presenteá-la com
amor,
se nem a mim mesma
eu amava?
Quando vi
a luz
e, em êxtase,
lhe busquei,
você já não estava.
Quando aprendi
a bondade
e quis oferecê-la,
você já havia partido.
Quando mergulhei
no mar do
amor,
e me afoguei
em suas delícias,
e lhe busquei
(para brindá-la
com uma poção
dos deuses),
você era apenas
uma ausência
latente.
* * *
* Tânia Maria Diniz Duarte é goiana de Ipameri, completou oitenta anos em março deste ano e publicou seu primeiro livro, Porta-Retrato, pelo selo editorial Maria Cobogó. Os dois textos deste post integram a obra que contem oitenta poemas de sua autoria. Tânia Maria vive em Anápolis e, além de seu livro, plantou várias árvores, tem duas filhas, dois filhos, três netos, quatro netas, três bisnetos e uma bisneta que completa 18 anos neste maio.
Imagem: Flor de Maio (Portal Vida Livre)
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