Tânia,
Seu livro ficou lindo e elegante como você, como a via passar com sua irmã Laís, em frente à minha casa. Andavam na calçada de lá, subindo a rua, no horário da missa, provavelmente se dirigindo à Igreja. Lembranças da juventude, como já falei antes com você e Claudine, da nossa Ipameri. E como ficou pitoresco o postal do Coreto! Uma alegre ilustração de Carmen San Thiago e bonita homenagem que você faz à cidade!
Achei que em todo o trabalho há uma unidade de fala, o que o torna muito real e verdadeiro, e isso me lembra o poema NADA MAIS (pág.125) , onde você diz que “verdade é aquela que você vive”. Pareceu-me estar emoldurada num porta-retratos sua experiência de vida, atenta aos sentimentos e registrada cuidadosamente em versos: saudade, solidão, falta, alegria…enfim, as vivências cotidianas.
Os poemas são sonoros  e bem ritmados, mas ressaltei PAR OU ÍMPAR (pág.113), DESPEDIDA (pág.157) bem precisos; RECADO, para meu pai (pág. 118), muito emocionado.

PAR OU ÍMPAR?

Se eu vou

você vem.

Se você vai

eu fico.

Nesse desencontro,

nos encontramos.

Formamos

um par.

Ou ímpar?

Em PERDAS ( pág.121) e APRENDIZADO (pág. 122), a atenção às vivências, emoções, para chegar a conclusões. Enfim, o livro mostra, em suma, sua sabedoria amealhada em anos vividos, mediante poemas esmerados, como em EU VI (pág.135) e PALAVRA (pág.65) e tantos outros.

PERDAS

A dor da perda

é infinita.

Vai-se ao fundo do poço e

ainda não basta.

Procura-se o infinito e

ainda não basta.

A dor persiste.

Sente-se que,

nesse desce e sobe,

desintegra-se.

Quando se ganha,

descobre-se

que foi uma

perda.

Quando se perde,

descobre-se

que se ganhou.

Nesse jogo,

a lucidez

nos ensina,

que, na roleta

da vida,

mais perdemos

que ganhamos.

Bem-aventurado

o que aprende

a transformar

essa alquimia

em riqueza,

dádiva dos deuses.

Foi, sem dúvida,  uma justa homenagem que seus filhos, neto e bisneta lhe fizeram, ao reunir o conteúdo da pasta amarela para um livro. Que venha outro! Claudine teve a quem puxar… E as receitas estão aqui guardadas.
Parabéns a você e a todos os craques do Maria Cobogó, sobretudo à Claudine, Coordenadora Editorial, que fez uma bela edição com um projeto gráfico de muitíssimo bom gosto!
Um abraço ipamerino,
Sandra Daher
***
*Sandra Daher é escritora, formada em Humanas. Qual uma Sherazade candanga, conta histórias lindas em seu livro e seus escritos. “Extratos de Conta-Corrente”, seu primeiro livro foi publicado pelo Coletivo Maria Cobogó como também o livro de poemas PORTA-RETRATO, de Tânia Maria, citado neste texto.
** A arquiteta Claudia Estrela Porto nos cedeu as fotos de Flores e Frutos do Urucum, em Ipameri, Goiás, sua cidade natal e também de Sandra Daher e Tânia Maria.
Os livros do Coletivo Editorial Maria Cobogó estão disponíveis no Sebo Dom Caixote. Basta acessar   @domcaixotesebo