por Marcia Zarur * |
Já perdi a conta das vezes que ao pegar um taxi na saída de algum aeroporto tive o seguinte diálogo:
– Bom dia, está vindo de onde?
– De Brasília.
– Ah, a terra dos corruptos?!
As respostas, algumas excessivamente mal-humoradas, vêm à ponta da língua, mas acabo caindo no velho clichê:
– A maior parte dos ladrões é o resto do país que manda pra lá, sabia?!
Até hoje é essa imagem distorcida que uma parte do Brasil tem de Brasília. O plano de JK, de fato, enfrentou resistências. Muitos viam como “uma ideia mirabolante”, plantada no meio do cerrado. Mas o fato é que a cidade vingou, cresceu e floresceu. Há mais 30 anos é considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO e encanta moradores e visitantes pela arquitetura surpreendente e o plano urbanístico revolucionário. É o primeiro bem cultural do século XX a ser incluído na lista de lugares de valor universal excepcional. Não há nada parecido em nenhum lugar do mundo! As pessoas podem gostar ou não, mas nunca podem afirmar que viram algo parecido.
Prédios de seis andares nos possibilitam ter a vista privilegiada do céu pra qualquer lugar que se olhe. Cada por do sol é um espetáculo de tirar o fôlego, com uma paleta de cores inacreditável. Cidade céu!
A liberdade é a alma da cidade. Construções erguidas sobre pilotis deixam o pedestre à vontade para andar por onde quiser, e garantem a noção clara e democrática de que o chão pertence a todos. Cidade livre!
Como numa sinfonia, temos escalas, os ritmos e as pausas, em imensas áreas verdes que nos conferem saúde e leveza na melodia diária. Cidade parque!
Somos a mistura das ‘gentes brasileiras’, vivendo cada segundo nessa cidade inventada, planejada, mais pulsante do que nunca, que abraça e acolhe quem vem de fora. Cidade gente!
Somos os cobogós, os pilotis, e as superquadras. Somos Ailema Bianchetti, Vladimir Carvalho, Luis Humberto e Valéria Cabral. Somos Chico Simões, Vera Ramos, Hugo Rodas, José Carlos Coutinho e Aldo Paviani. Somos nossos avós, nossos pais, nossos filhos e todos os pioneiros. Somos uma síntese do Brasil, misturando culturas, hábitos, sotaques e crenças. Somos muitos, nascidos aqui ou abraçados por essa cidade única.
Muito prazer, somos Brasília!
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*Marcia Zarur é jornalista, escritora, fundadora do Coletivo Maria Cobogó, apaixonada por Brasília e por tudo que diz respeito à cidade. Tem dois livros publicados: Amor Concreto e Mestres Cobogós/Glenio Bianchetti. Em produção, junto com Ana Maria Lopes, o próximo volume de Mestres Cobogós: Athos Bulcão. No canal do youtube do SESC DF, Marcia pode ser vista no programa que idealizou – CULTURA AO QUADRADO – conversando com expoentes da arte e cultura de nosso amado quadradinho. Confira.
Imagem: Panteão da Pátria e da Liberdade – Memorial Tancredo Neves envolvido pelo azul de Brasília | foto de Joelson Maia em @joelsonmaia (02.maio.2020)
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