Geraldo Nogueira Batista

 

A propósito da doação do acervo do arquiteto Lúcio Costa à Casa da Arquitectura, uma instituição portuguesa, faço algumas considerações. Inicio com uma referência do artigo publicado no livro Alquimia Urbana, que julgo pertinente a esse debate. No texto menciono a necessidade de criação de uma organização cultural, de âmbito nacional, dedicada ao tema da Arquitetura. Uma instituição que poderia e deveria ter sua sede em Brasília.

Julgo que tanto este como outros acervos de profissionais que contribuíram de forma expressiva para a Arquitetura do país deveriam estar reunidos num único panteão. Nomes como os de João da Gama Filgueiras, o Lelé, de Affonso Eduardo Reidy ou Paulo Mendes da Rocha deveriam constituir um acervo de referência e orgulho da arquitetura feita no País. Este último, por sinal, teve seu acervo também expatriado e incorporado à mencionada instituição portuguesa.

Sem nenhuma intenção de crítica ou censura, acredito que se deveria ir além da mera e restrita criação de instituições dedicadas à preservação dos acervos pessoais. Uma organização única que poderia ser designada e identificada por um expressivo nome da arquitetura brasileira.  Sem descartar outros, os de Oscar Niemeyer e o do próprio Lúcio Costa, são nomes associados a Brasília e à moderna Arquitetura brasileira. Que melhor homenagem se poderia prestar?

No texto mencionado relacionei alguns possíveis exemplos de projetos e tarefas que poderiam ser patrocinados ou assumidos por essa organização. Importante agora explicitar – como uma das mais importantes – a tarefa que teria de arquivar, tratar e preservar os acervos pessoais e profissionais de arquitetos que tenham legado contribuições significativas. Imaginei também que a criação de uma instituição cultural dedicada à Arquitetura poderia ter seu ponto de partida na iniciativa de organizações profissionais como o IAB, o CAU, a ABEA etc.

Quem sabe se a possibilidade de sua criação não possa ser apoiada e estimulada por iniciativas governamentais, seja do nível executivo ou do legislativo? Apesar de os governos, local e federal, não estimularem ações voltadas à preservação do patrimônio cultural, precisamos unir a sociedade civil nessas ações de manutenção da nossa história.

Afinal de contas a Arquitetura é uma das marcas registradas da cidade. Pensar Brasília implicará sempre em também pensar na sua proposta urbanística, ou seja, na sua significativa Arquitetura.

 

Geraldo Nogueira Batista é arquiteto urbanista, foi Presidente do IAB-DF, Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília e escritor. Seu livro Alquimia Urbana – Brasília, Urbanismo e outras cidades – foi editado pelo Coletivo Maria Cobogó.