por Ana Maria Lopes

No ano bissexto de 2020, inesperadamente, perdemos um poeta. Um grande poeta.

Perder um poeta é rasgar um pouco o céu, é solar o bolo de casamento, é chuva no piquenique. Perder um poeta é ficar órfão da beleza e da esperança. E assim ficamos com a morte de TT Catalão.

TT era o homem qualificado por seu próprio jorro poético. Aquele que fazia do texto jornalístico uma poesia autêntica e inexplicável, talvez procedida de um movimento que saía do fundo do ser.

Homem cordial, fazia da polidez para com a natureza humana sua crença e confiança no futuro. Carregava sonhos nos bolsos de seus jeans e os distribuía em frases e metáforas. Grande Vanderlei dos Santos Catalão.

Certa vez, estava em viagem ao exterior e postei algumas fotos turísticas no facebook. Envergonhada, é verdade, pois o país passava por uma grande crise e as ruas não podiam prescindir de ninguém. TT comentou que eu não devia sentir culpa, que era isso que os canalhas queriam, que o prazer era um direito de todo cidadão. Ele era assim.

Diz-se que o poeta é, por essência, alguém que deve construir um mundo para si. Mas TT não se encastelou. Tornava público suas idéias e escrevia na busca de uma autenticidade para recriar a verdade com pé no chão e humor. E essa foi a fórmula poderosa que o levou a escrever sobre os mais diferentes temas – abraçando o texto e revestindo-o de poesia.

A tensão ininterrupta da inspiração o levou a escrever diariamente nas redes sociais. Grafava frases de estímulo e resistência.

Sei que TT Catalão continuará existindo em nós, mas perdemos sua atividade criadora de poeta e jornalista. Perdemos o homem que viajava pelo interior das palavras e jogava com elas recriando sentidos. Era assim que ele explicava o mundo.