por Claudine M. D. Duarte* |

“And all our yesterdays have lighted fools/ The way to dust death.”

William Shakespeare, in Macbeth

 

Chinelas: nem aguentaram o março, abril, maio… aniversário? Setembro ipês amarelos.

Não deixam dirigir de chinelas carteira vencida bebida. Grama seca garganta seca – essa merda de máscara molhada; preciso de uma chinela nova. Abraços, ele assinou abraços!

Siga até a rotatória e saia na primeira saída. Se tivesse um GPS pra viver… Abraços?! Enfia os abraços braços dedos. Rotunda. Em Portugal é assim; na minha terra, balão. Em duzentos metros, direita…

Sinal fechado – que pernas! Canal 100, preto e branco, câmera lenta aí sim aquelas sim lindas pernas. Você chegou ao seu destino! Seria fácil mas não; limites, limites em cores. Quero ver lidar com pregos no chão ao vivo. Pés descalços, abraços nem mesmo, aqui não!

Uma garrafa d’água, gelada não. Quanta gente na rua nessa fila; na praia domingo deu no jornal: ignorantes da pandemia que nem os ipês, esses desandados. Brega foto de ipê de lua cheia de sol refletido no mar… no lago? Brega assinar abraços? Brega é máscara de bolinhas vermelhas emoji de mãozinhas, enviar abraços é crime.

Quem disse que petit pois tá na moda?

Não deu tempo de aprender a ler a mão jogar tarô runas botões pratos copos fotos rasgadas. Quebradas as tiras. Se eu pudesse, chorava. Ou ria. Brega, clichê. Arrebentada, por favor, uma roxa assim.

 

***

 

*Claudine M. D. Duarte é escritora, dramaturga, finalista do Jabuti pelo projeto Calangos Leitores e fundadora do Coletivo Editorial Maria Cobogó. Partilhou uma terça-feira de setembro, em Brasília, na seca. Hoje, diria que brega é caminhar com máscara no queixo e não saber que dia é o nosso dia D...

Imagem: ilustração de Flaminia Bonfiglio inspirada em foto de Jean Faucheur.