por Ana Maria Lopes * |
Meu Deus ( se meu Deus houver)
me dê a paciência dos pescadores
para que eu possa esperar tudo
que ainda hei de ver e viver
Me dê a serenidade dos morros
para que eu possa, estóica em pedra,
durar o tempo do mundo
Meu Deus (se meu Deus houver)
me dê ainda por bom tempo
o tempo de ouvir os netos,
o riso dessas crianças e seu doce crescimento
Me dê mais tempo para plantar
e para colher para os que virão
a partir do meu ventre
me eternizando na vida
Meu Deus (se meu Deus houver)
acrescente ao meu ser justiça
para que eu possa com sapiência
não julgar, mas desviar-me do mal
e procurar o bem
como a água que se procura
em deserto, sedenta dessa dádiva
Me dê o fogo, a luz e o desejo
Para que eu não esqueça
que o amor é o que aquece,
alimenta e enriquece a vida
Meu Deus (se meu Deus Houver)
me dê as águas para que nela me banhe
e me purifique, me sacie e me irrigue
para que eu possa, múltipla,
gerar o desafio da existência
Me dê, se você houver,
o dom da palavra e da escrita
para que eu sempre me permita
ousar o verso, a rima, o verbo
e embalar minhas dores e minhas penas
com o ritmo de meus poemas
Peço-lhe, meu Deus,
se meu Deus é,
nunca me livre do estado de êxtase
que encontro ao contemplar o céu e as estrelas
Me dê, meu Deus, se puder,
a gentileza como penitência
e que ao fim de tudo
quando o mundo for perdendo as cores
reúna em torno de mim meus amores
celebrando comigo a alegria
de não ter vivido em vão
Por fim, meu Deus,
em sua infinita paciência,
não permita que eu morra
sem a certeza de sua existência.
Amém.
***
*Ana Maria Lopes é jornalista, escritora e fundadora do Coletivo Editorial Maria Cobogó. Apaixonada pela vida, nos cedeu sua prece tão necessária em nossos tempos. Acreditemos.