por Jorge Amancio * |

o   sol
espreita
pelas frestas.
a neblina
acalenta
os óculos escuros.
pingos
lacrimejam
o dia.

ando
ao portão
entreaberto.
a lembrança
entre rasga
a voz.
no silêncio,
o cheiro de flores
e mármore.

a chuva fina
o arco-íris
despedem-se
da manhã.
a terra
cobre
o corpo.

Sem chão,
prendo
a memória.

mudo
a cama de lugar,
abraço
o travesseiro.

guardo
a munição
ponto 45.

ouço
Lupicínio Rodrigues
e choro.

***

* Jorge Amancio é físico e poeta. Escreveu três livros: Negro Jorgen, Batom D’Amor e Morte e Nósourtxs.  Seu primeiro poema foi publicado pelo jornal “Raça” do MNU. Em Brasília, participou da criação do Movimento Negro Unificado e foi fundador do Centro de Estudos Afro-Brasileiros. Também participou do Centro Cultural Asé Dudu e criou e edita o grupo Os Três Mal-amados. (instagram: @negrojorgen)