por Elisa Maria Mattos*

Cena: Sábado à noite, em Brasília, três amigas jantam num restaurante japonês. Entre um sushi e outro, uma delas explica como é tranquilo e econômico esconder os fios brancos sem ser submetida às aporrinhações de um salão de beleza.

Decidi então repassar dicas tão valiosas (sério) para outras meninas que gostam de experimentar fortes emoções (meninos também pintam os cabelos, mas escondidos, no andar de cima da barbearia):  

 Vamos lá:

– Na véspera, desmarque todos os compromissos. 

– Acorde bem cedo e saia para comprar o jornal mais gordo da banca (missão difícil – os jornais estão morrendo à mingua).

– Leia o jornal inteiro, para não perder as informações.

– Vista a mais surrada roupa que tiver.

– Desocupe todo o banheiro de roupas e objetos.

– Forre o banheiro inteiro e o cômodo mais próximo, com as folhas do tal jornal.

– Passe creme hidratante em todo o corpo, inclusive nas plantas dos pés, caso a tinta se espalhe pelo chão e você pisar. Ficará mais fácil de ser removida.

– Divida o cabelo em 387 partes rigorosamente iguais e faça rococó em cada uma delas (lembrou de comprar as 5 caixas de grampos?).

Bem, o tempo voou e deu fome (não deu tempo de tomar o café da manhã). Melhor almoçar, para evitar uma crise de hipoglicemia.   

Duas horas depois:

– Prepare a tinta conforme as instruções da caixa. Mexa o creme durante ½ hora para obter consistência.

– Ah! Lembre-se de forrar o corpo todo com folhas do jornal para não manchar a velha roupa.

– Agora sim, comece o processo de tingimento, fio a fio.

– Passe a tinta va-ga-ro-sa-men-te em cada mecha, refazendo os rococós um a um. Lembre-se que são 387 mechas!

Em Brasília, 19 horas!

A VOZ DO BRASIL ESTÁ NO AR.

Deu fome de novo? Tome uma sopinha, coisa leve (não é legal lavar os cabelos de barriga cheia).

– Vontade de desistir? Azar o seu! A tinta já está na cabeça fazendo efeito. Se parar pela metade, o cabelo vai virar um arco-íris!

– A instrução recomenda que, para a cor ficar linda, do jeitinho que você sonha, são necessárias DUAS HORAS de resiliência.

Deu sono? Resista! Tome duas latinhas de Coca, já está quase na hora de lavar a cabeça.

– Finalmente, hora de retirar a tintura! Mas como fazer para não manchar o box branco recém reformado? Não dá prá forrar o box com jornais 🙁 

– Simples, lave os cabelos agachada e sem agitar as mãos para não respingar na parede (dica minha).

– Pronto! Ufa! Missão cumprida! Saindo do chuveiro!

– É, ainda não dá pra saber o resultado porque cabelos molhados sempre parecem mais escuros. Mas Deus é Pai! 

– Ah! Não é recomendável dormir com os cabelos molhados, além de sujar a roupa de cama (mesmo que você forre travesseiro e cama com o que sobrou do jornal), você corre o risco de acordar gripada. Desça com o cachorro, vá dar uma volta na quadra, o friozinho da meia-noite vai ajudar a secar os cabelos! E eles ainda ganharão brilho especial por causa do reflexo da lua cheia!

Resultado: Linda, feliz e invejada! 

Depois de ler o original, Cassuça me enviou uma errata: “- Não é tinta, é hena! Super hiper natureba, sem aditivos, amônia, com óleos essenciais, da Lush, mais natural e sem fixador, impossível. Então tem que ficar quatro horas, senão corre o risco de não pegar”.

Conclusão: não importa se é tinta química ou hena ou guache ou corante de bolo, o que importa mesmo é ter com quem dividir uma mesa, dar risadas e ter a certeza que são nos detalhes que a vida se mostra mais perfeita.

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*Elisa Maria Mattos é jornalista, escritora e pinta os cabelos com muito humor.