Marcia Zarur

O grande ator João Antônio, figura querida na cena brasiliense, é categórico: se temos um ator e um espectador, nós fazemos teatro – em qualquer lugar! A força da arte é admirável, assim como a garra dos artistas, que continuam produzindo, mesmo com as condições mais adversas.

Uma das minha alegrias é dar visibilidade a este trabalho poderoso e vigoroso da cultura candanga. O Distrito Cultural é vitrine, é palco, é descoberta, é um canal aberto que redescobre a cidade e amplifica o que ela tem de melhor. E ouvir o que tanta gente inspiradora tem a dizer, nos torna mais íntegros e mais completos.

Apesar da arte acontecer em qualquer lugar, e se sobrepor a todas as dificuldades, os espaços culturais são templos necessários e festejados. O próprio João Antônio conta que, no início de Brasília, pela falta de palcos para os artistas amadores, eles mesmos ergueram o Teatro Galpão num armazém abandonado na W3 Sul.

O Espaço Cultural Renato Russo, com o seu Teatro Galpão, seguiu sendo referência na cidade. E mesmo depois de um hiato de 5 anos com as portas fechadas, reabriu unindo apresentações e incentivo ao fazer artístico.

São artistas com poderes mágicos esses que transformam cantinhos inusitados em espaços culturais. A  garagem ordinária de uma casa em Planaltina pode virar o palco extraordinário do charmoso Lieta de Ló. Um galpão se transmuta na casa de espetáculos Espaço Pé Direto na Vila Telebrasília. Um prédio, antes abandonado no Gama, hoje abriga o Espaço Semente para teatro, diálogo e criatividade. E assim a cidade caminha se reconstruindo, se reinventando e se ressignificando pelas mãos de seus artistas.

Merecem destaque também os espaços do SESC, que levam cultura e formam público, em seus lindos teatros, em Taguatinga, Ceilândia e Gama. Sem falar no Teatro Garagem, que faz parte da memória afetiva de gerações de brasilienses.

Mas o que depende exclusivamente do poder público dificilmente acompanha as demandas de quem vive a cidade. Governos e governos passam pelo poder vendo, de camarote, o icônico Teatro Nacional fechado. Partidos se alternam em mandatos assistindo a Biblioteca Demonstrativa desativada.

Por isso, mais do que nunca, o vigor e a força criativa e realizadora dos artistas precisam nos inspirar. A arte e a cultura do nosso quadradinho terão sempre os meus aplausos!

*Marcia Zarur é jornalista e integrante do Coletivo Editorial Maria Cobogó