por Maria Félix Fontele * |
Nesses dias de isolamento, de pés descalços e cabelos soltos ao vento, a proximidade com os livros é maior. Arrumei a estante das obras de escritoras de Brasília. Nos últimos dois anos, adquiri mais de 40 livros concebidos pela verve feminina, em ritmo de poesias, romances, contos e crônicas, histórias infantis.
Coloquei-os enfileirados sobre o tapete para fotografá-los. São trabalhos de muitas mulheres nascidas no Distrito Federal ou em outros estados e que adotaram Brasília como sua cidade. Daqui do coração do Brasil, contribuem, com fertilidade criativa, para o fomento universal da cultura, da educação, da literatura, das artes e da inteligência. E pela grande produção, podemos ver que essa contribuição é gigante.
Hoje, elas estão no panteão das escribas! Vejamos que na antiguidade egípcia, os escribas (só no masculino) eram homens eruditos, preparados para interpretar textos e palavras e, assim, exerciam os mais altos cargos administrativos. Eram reverenciados pela instrução que possuíam e também por toda uma estética linguística que sugeriam.
Na Brasília piramidal, com seus triângulos, subterrâneos, túneis e espirais, tão bem descrita no livro “De Aknaton a JK – das pirâmides a Brasília”, da professora Iara Kern, mulheres não só ocupam cargos administrativos relevantes mas também escrevem, escrevem e escrevem, num ato simbólico de resistência contra qualquer tipo de violência, de opressão e de preconceito. São as mães do mundo de almas livres.
E o meu tapete vai ficando pequeno para expor tantos livros de boa qualidade, produzidos a partir de uma mística feminina, na qual me incluo, pois vejo as escritoras como irmãs de alma, de criação, de caminhada. Olho para essas obras, embalo-as no pensamento em abraço suave como se fossem frutos frescos e doces colhidos em terras férteis, banhadas pelo rio eterno da imaginação.
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*Maria Félix Fontele é jornalista e escritora. Escreveu Versos que me Habitam, publicado pela editora Confraria do Vento em 2018. Os poemas da autora já pousaram na Áustria, onde ganhou um concurso de poesia. É uma grande parceira do Coletivo Maria Cobogó.
#umpoema da autora:
REPÚBLICA
Proclamei minha república de versos
Sim, ainda dá tempo de ser feliz
Não arranquemos a última flor do jardim
Nem esqueçamos de amar o Brasil
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Imagem: arquivo (e biblioteca) da autora