Maria Cobogó * |
“Só posso dizer, em resposta ao que tão
respeitosamente se me pede, que seu
nome é Dulcinéia, sua pátria El Toboso, em
lugar da Mancha: a sua qualidade há de
ser, pelo menos, princesa, pois é rainha e
senhora minha…”
(D. Quixote de la Mancha, personagem
de Miguel de Cervantes)
Ela é taurina, com todas as características de seu signo zodiacal. Aliás, todas as qualidades dele, bem dizendo. Mulher múltipla como um polvo. Tem dois ou oito braços que – parecem ser muitos mais – exercem as tarefas que norteiam sua vida. Envolvem, acolhem, aplaudem, acariciam, remam, a favor e contra a maré e abraçam.
Claudine é terra, argila em que se moldam os cobogós dessa cidade. E é escultora de afetos. Mulher única, cujo compromisso com a existência promove encontros, nunca desencontros, como sugere o título de seu primeiro livro, Desencontos. Encontros que ela tem com ela mesma e com o mundo.
Foi num desses encontros que o sonho se transformou em Maria Cobogó. Num outro, descobriu escritoras. Num outro encontro ainda, mergulhos na arte, no teatro, na literatura.
E Claudine é a mediadora, a intérprete. É a mulher que constrói um ideal a cada dia, mesmo os ideais utópicos que nela se ajeitam, ajuntam e se cumprem.
Ávida, lê compulsivamente. Mas para ela, não basta ler, o movimento só vale se for conjunto. Todo mundo tem que ler e ter um
livro. Seu projeto de formação de leitores é um êxito total. É a consciência norteando a produção, o saber e a leitura.
Não à toa, coleciona edições de Dom Quixote. Conta a lenda que são mais de setenta. Não importa. Sendo sete ou setenta, o engenhoso fidalgo da Mancha lhe faz companhia. Certo é que literatos de todo o mundo discutem ainda quem teria servido de modelo a Cervantes. Qual pessoa de carne e osso teria inspirado um personagem com valores morais tão altos?
Se Miguel de Cervantes Saavedra vivesse nos dias de hoje, ganharia inspiração na mulher que escreveu Norte:
“Falaram que era uma estrada. Sem volta. Ninguém contou da falta de chão.
Reparei na ausência de placas. Ninguém disse que era tão longe.
Nem que nem era para sempre.
E, juro, eu tinha uma bússola…”
*
* Maria Cobogó é o Coletivo Editorial que reúne mulheres que se amam e se apoiam. Claudine Duarte é parte integrante desse universo amoroso. Seu aniversário, como todos os outros dias do ano, foi o motivo para lhe homenagearmos.
**Imagem: Dendrologia: Pequizeiro, de Tâmara Habka, 2020.