por Solange Cianni *
Há uma grande expectativa de que só através da educação será possível fazer algo para mudar o percurso da humanidade. Este é um tempo de grandes utopias: muitas descobertas e avanços científicos em detrimento de um afastamento de si mesmo e da incompreensão do ser e do outro.
Aprender a conviver torna-se, então, um pilar educacional necessário, trabalhando pacientemente contra a tensão instalada entre as pessoas e criando um olhar cuidadoso para a igualdade de oportunidades.
Segundo a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI da Unesco (Delors, 2005, p.14), há a necessidade de se criar novas disciplinas às já tradicionalmente utilizadas, tais quais: conhecimento de si mesmo, meios para se manter a saúde física, psicológica e preservar o meio ambiente natural. Cabe, ainda, à educação despertar o respeito às tradições e ao pluralismo, fazendo frutificar os talentos e potencialidades pessoais e a criatividade, favorecendo o educando a desenvolver a capacidade de assumir a autoria do seu projeto pessoal, com vistas ao social.
É um longo, vasto e profundo caminho, mas todo educador é um jardineiro da utopia, como dizia Roberto Crema (Reitor da Unipaz/DF). Fala-se aqui, não do impossível de acontecer, mas do que ainda não aconteceu, do que virá a ser. O verdadeiro educador é também um peregrino estratégico do saber, movido pela esperança de que, apesar do árduo caminho, aos poucos e passo a passo, a educação poderá formar pessoas capazes de mudar o mundo, tornando-o mais justo e fraterno, apontando para soluções voltadas para o desenvolvimento de um ser mais feliz e mais saudável.
O século XXI nos colocou num mundo sem fronteiras nacionais. A compreensão de que estamos todos num mesmo barco arredondado e azulado chamado Planeta Terra, transforma os objetivos da educação para este século, com vistas à paz mundial, tão necessários e urgentes para a sobrevivência, não apenas do indivíduo, mas da espécie humana.
Dalai Lama fala da calma que deve ser mantida sempre antes de tomar-se qualquer atitude ou decisão. Como manter-se calmo nessa corrida louca de todos os dias? Como quebrar o ritmo acelerado, exigido pela sociedade, para se ter sucesso? Como conciliar as exigências cada vez mais cobradas pelo mercado de trabalho, com as práticas de reflexão e mergulho interno e de compreensão do outro, o que requer tempo de calma, não mensurável, porém necessário?
Deixo como reflexão às perguntas acima e para inspirar-nos, um trecho da música “Da idade do céu” de Paulinho Moska, que propõe este espaço de calma de que tanto precisamos:
“Calma, tudo está em calma …
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma tenha a mesma idade
Que a idade do céu.
Calma..”
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Solange Cianni é psicopedadoga e integrante do Coletivo Maria Cobogó