por Lucilia de Almeida Neves Delgado*

 

Despedidas são vida efervescente em suas ambíguas ardências.  Separam pessoas, criam fronteiras, afastam ambientes, lugares, aconchegos e vivências que ficaram pelo caminho. Estão sempre presentes no que constitui as plurais essências do ser.

Existem diferentes formas de despedidas, partidas ou rupturas de elos.   Podem ser dolorosas e paralisantes. Mas podem trazer em si a força do seguir adiante. Essas são as esperançosas. Oferecem futuro no presente.

Existem também despedidas que são pura tristeza. As profundas levam ao exílio da alma, pois brotam e crescem na dor do inevitável. Parecem infindas em sua tessitura de perda. Não são revoadas de pássaros na liberdade do céu aberto. Ao contrário, são mergulhos solitários, desalentos, desassossegos, perdas.

Essas são razões que alimentam pensamentos de que nas despedidas prevalecem a dor e o sofrimento. O sentimento tormentoso do nunca mais.  A sensação de perda definitiva.  A morte de uma parte do que somos.

Quando as vivemos germinam pensamentos de retornos. Mas voltar ao antes não é possível, pois as mudanças são inerentes ao viver. O que foi ou o que somos ganha novos sentidos nas andanças que nos mantém vivos e fazem da vida um eterno despedir. Uma ausência de único ninho. Uma estrada de múltiplas moradas.

Mas algumas despedidas trazem em si salvação. São plenas de colheitas definidoras. Podem conter infâncias, amores, desejos, momentos de genuína alegria, olhares, recônditos, odores, sabores, beijos, abraços, nascimentos, caminhos, amizades, tristezas, mortes. Vibram no que somos. São tatuagens do que foi no que ficou e no que será.

A vida é um acumular de vivências e de diferentes formas de despedidas, plenas de significados. É um fluir constante, incerto ou planejado, mas nunca vazio e linear. Necessita de pontes. Aprendemos a construí-las para sobrevivermos a nós mesmos e aos obstáculos que podem nos paralisar. Aprendemos atravessá-las em razão oposta à da imobilidade, pois ao erguê-las e ao caminhar sobre elas nos tornamos sujeitos da nossa existência. Sujeitos que retém em si os significados das travessias.

Despedidas são inevitáveis. Na sua dor ou na sua projeção do vir a ser, podem ser mergulhos nas águas corredeiras que fazem do viver desafio inexorável.

 

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*Lucília de Almeida Neves Delgado é historiadora e escritora