por Lucilia de Almeida Neves Delgado * |

 

Ouço o silêncio das milhões de dores

atordoa mais do que amores perdidos

É pesado como tristezas minerais

 

O ar maciço como água represada

pede oração

 

Que teus sonhos se tornem insônia definitiva para os indiferentes

Que pintem suas almas com cores enlutadas dos sonhos desfeitos

Que o coro de tuas vozes acorde os distraídos

neles esculpindo cicatrizes profundas

Que tuas saudades ressoem nos olhos dos que ditam

tornando-os opacos e sem vida

 

Que as agonias dos que ficaram

ressoem em agudos gritos nos ouvidos dos poderosos

Que o sofrimento das horas em que tuas vidas se apagaram

se transforme em chagas nas entranhas dos maus

Que a solidão das despedidas

se faça constância na vida dos dominadores

 

Que a terra que se fez leito frio, definitivo

feche a garganta dos indiferentes poderosos

Que as dores dos que ficaram

atinjam como milhares de setas os corações dos coniventes

Trazendo-lhes sofrimento irremediável, atroz

 

Que das luzes das estrelas

Façam-se mel nas mãos dos que te socorreram

Que as flores matutinas

suavizem as lágrimas dos que te perderam

Que as teclas dos pianos

consolem as vidas que seguirão no apesar

 

Que as almas dos que por tuas vidas lutaram

ganhem fluidez de nobre beleza

Que a generosidade dos que te acolheram

faça  canções para alegrar-lhes a vida

Que a força dos que resistiram

torne-se certeza de renovado futuro

 

Que o céu possa acolher com suavidade os que chegam

 

Que milhões de estrelas cadentes se desprendam das nuvens

trazendo boa nova ao mundo

Amém!

 

***

 

*Lucília Neves de Almeida Delgado é escritora e historiadora. Ama flores, poesia e a vida. Tudo junto e misturado.

 

Imagem: O Tempo (2019-2020), de Tâmara Habka: @paprikadatil.art