Claudine M. D. Duarte - Foto Janine Moraes.

Claudine M. D. Duarte – Foto Janine Moraes.

Claudine M. D. Duarte

Como (quase) todos os goianos, amo pequi e tudo que acompanha o cerrado: árvores tortas, céu azul, ar com gosto de terra e esse jeito de não desistir. Nasci na cidade de Anápolis em maio de 1962 e herdei de meu pai, político e jornalista, o gosto pela escrita e pela expressão. Uma paixão pelas palavras e seus ‘ajuntamentos’ nos livros… ai, livros! Fiz deles companheiros de jornadas. De todas. No curso de arquitetura e urbanismo na UnB, a obra Cobijo se fez presente ao lado de outras. Na vida profissional, de arquiteta de espaços físicos, passei à construção de lugares e conexões virtuais, dividindo com outros parceiros do mundo da tecnologia da informação, o prazer da leitura e das inigualáveis distopias.

A paixão pelos livros gerou alguns sonhos: uma livraria de bairro e levar literatura aos palcos teatrais. Ousei adaptar Uma Criatura Dócil, de Fiódor Dostoiévski para o teatro e, com outro tanto de atrevimento, dirigi o espetáculo teatral em 2016. Em 2018, repeti o feito com a montagem da peça teatral baseada no livro homônimo O Legado de Eszter, do escritor húngaro Sándor Márai. Aquela livraria, esperando para acontecer aqui no cerrado, por enquanto se materializou no projeto cultural Calangos Leitores, onde coordeno Clubes de Leitura para adolescentes em escolas públicas no DF e, com ele, foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2018.

Quanto à escrita, tenho uma lembrança assim meio desbotada de umas férias escolares, em Ipameri, Goiás, onde eu queria escrever uma história tão linda como a do vaqueiro de Vandré, cantado por Jair Rodrigues na inesquecível Disparada.  Meu bisavô me deu um bloquinho azul de sua Pharmacia (era com ph e ele se chamava Múcio) e forjei um misto de roteiro de faroeste com Meu Pé de Laranja Lima… Não foi publicado, mas juro que teve um primo que chorou. Adolescente, escrevi umas crônicas, faziam chorar também. Ambas foram publicadas no jornal que meu pai dirigia. Apenas isso. E foi tudo por muito, muito tempo.

Depois de muito chão, duas filhas, quatro netos, vários cursos de escrita criativa, storytelling e de roteiro, resgatei a coragem do bloquinho azul e ‘desassombrei’ o primeiro livro: Desencontos (2018), uns minicontos azuis… como disse o poeta Thiago de Mello: sei que azuis refiro, sei que azuis usei. No final de 2020, lancei meus Sete Pequenos Tumultos, uma sequência de narrativas breves acomodadas em forma de lâminas dentro de uma caixinha à guisa de livro. Ambos levam o selo desse coletivo editorial chamado Maria Cobogó. Sou uma das fundadoras e, hoje, somos cinco escritoras que, carinhosa e ‘delicadamente bravas’ utilizamos a literatura para resistir. Insisto. Insistimos.

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